(a origem do culto aos santos, a veneração de Maria e as doutrinas em relação a ela, e a origem dos sacramentos).
A influência dos bárbaros e o crescimento do poder episcopal provocaram também mudança no culto da Igreja. Para que os bárbaros, acostumados com culto a imagens, pudessem ser realmente assistidos pela Igreja, muitos líderes eclesiásticos entenderam ser necessário materializar a liturgia para tornar Deus mais acessível a estes fiéis. A veneração de anjos, santos, relíquias, imagens e estátuas foi uma conseqüência lógica deste procedimento. A intimidade com o estado monárquico também determinou uma mudança no culto, passando-se de um forma democrática simples para outra mais aristocrática e colorida de liturgia, com uma clara distinção entre o clero e o laicato.
O domingo tornou-se o dia principal do calendário eclesiástico depois que Constantino estabeleceu que este seria o dia de culto cívico e religioso. A festa do Natal tornou-se uma prática regular em meados do século IV, adotando-se a data de Dezembro anteriormente usada pelos adoradores de Mitra. A festa da Epifania, que comemorava a visita dos magos a Cristo, entrou também para o calendário da Igreja. Acréscimos do ano judaico, de narrativas dos Evangelhos e da vida dos santos mártires propiciaram uma expansão constante do número de dias santos, no calendário eclesiástico.
Aumentou também o número de cerimônias que passariam a ter funções sacramentais. Agostinho entendia que o casamento devia ser considerado como um sacramento. Cipriano sustentava que a penitência era algo à vida cristã. Com o alargamento do fosso entre o clero e o laicato, foi necessário interpretar a ordenação à luz do sacramento. Por volta de 400, a confirmação e a extrema-unção tornaram-se funções cm valor sacramental. A antiga formulação teológica acerca da doutrina do pecado original contribuiu para aumentar a importância do batismo infantil. No começo do século III, Cipriano considerava o batismo infantil um fato aceito. Agostinho também enfatizou a importância do batismo. A Ceia do Senhor ocupava lugar central no pensamento do fiel e na ordem da liturgia. Começava, então, o seu processo de tornar-se um sacrifício e sacramento. Cipriano achava que o sacerdote agia no lugar de Cristo na Ceia e que ele oferecia “um sacrifício verdadeiro e pleno a Deus, o Pai”. O Cânon da Missa, que Gregório I alterou profundamente, enfatizava a natureza sacrificial do culto da comunhão. Ao final do século VI, todos os sete atos que a Igreja Católica Romana considera sacramentos estavam em uso e ocupavam uma elevada posição no culto. O sacerdotalismo, a crença de que a substância da ordenança se torna eficaz através da celebração sacerdotal ganhou terreno seguro. Aguçava-se cada vez mais a separação entre o clero e o laicato.
A veneração a Maria, mãe de Jesus, desenvolveu-se rapidamente por volta de 590, e levou à adoção das doutrinas de sua imaculada conceição, em 1854, e de sua assunção miraculosa aos céus, em 1950. A interpretação equivocada da Bíblia e a série de milagres atribuídos a Maria nos evangelhos apócrifos forjaram uma grande reverência por ela. O nestorianismo e outras controvérsias cristológicas do quarto século acabaram na sua aceitação como “Mãe de Deus”, dando um lugar de honra especial a ela na liturgia.
Clemente, Jerônimo e Tertuliano tinham creditado uma virgindade eterna a Maria. Agostinho cria que a mãe de Cristo sem pecado jamais cometera pecado. O monasticismo, com sua ênfase sobre a virgindade, fortaleceu a idéia de veneração a Maria. Estas e outras considerações levaram a Igreja Romana a lhe dar uma honra especial. Aquilo que de início era apenas um reconhecimento de sua posição elevada como mãe de Cristo logo transformou-se numa crença em seus poderes intercessórios, por se pensar que o filho ficaria alegre por ouvir os pedidos de Sua mãe.
A oração de Efraim Sírio (c.306-c.373) é o primeiro momento de uma invocação formal a Maria. Em meados do século V, ela foi colocada como a principal de todos os santos. Festas ligadas a seu nome brotaram no século V. As principais era a festa da Anunciação (em 25 de março), que comemorava o anúncio dos anjos ao nascimento de um filho a ela; a Candelária (2 de fevereiro), que celebrava a sua purificação após o nascimento de Cristo, e a Assunção (15 de agosto), que a assumia como tendo ascendido aos céus sem morrer. No século VI, Justiniano pediu a sua intercessão em favor de seu império. Em 590, ocupava ela uma posição singular no culto da Igreja Romana.
A veneração dos santos surgiu do desejo natural da Igreja em honrar aqueles que tinham sido mártires nos dias em que fora tão duramente perseguida pelo estado. Ademais, os pagãos estavam acostumados à veneração de seus heróis; quando muitos deles vieram para a Igreja, pareceu-lhes natural substituir os seus heróis pelos santos e lhes dar um status de semi-divindade. Até 300,a celebração em túmulos constava apenas de orações para descanso da alma do santo, mas em 590 a oração por eles tinha se tornado por intermédio deles. Igrejas e capelas foram construídas sobre estes túmulos; festas relacionadas à sua morte obtiveram um lugar no calendário eclesiástico; lendas de milagres atribuídos a eles disseminaram-se rapidamente. O comércio de relíquias, como cadáveres, dentes, cabelos ou ossos, tornou-se um problema tão grave que foi proibido em 381.
O uso de imagens e esculturas no culto propagou-se rapidamente na proporção em que mais e mais bárbaros entravam para a Igreja. Para estes adoradores, essas imagens materializavam a realidade invisível da divindade. Tinham elas também uma função decorativa no embelezamento da Igreja. Os pais da Igreja procuraram fazer a distinção entre a devoção a estas imagens, que era parte da liturgia, e o culto a Deus; duvida-se, porém, que esta sutil distinção tenha evitado que o fiel comum oferecesse a elas culto que os pais reservaram a Deus somente.
Ações de graças ou procissões de penitência tornaram-se parte do culto a partir de 313. Peregrinações, primeiro à Palestina e depois às tumbas de santos famosos tornaram-se comuns. A mãe de Constantino, Helena, visitou a Palestina em 326 e disse ter encontrado a verdadeira cruz.
A ajuda do governo e a liberdade de culto sob Constantino levaram a uma ampla construção de templos. Os cristãos tomaram de empréstimo o tipo de arquitetura basílica aos romanos que a criaram para seus edifícios públicos dedicados ao negócio os às diversões. A basílica era uma grande construção retangular em forma de cruz com um pórtico na parte ocidental para os não-batizados, uma nave para os batizados e uma capela na parte oriental onde o coro, os sacerdotes e no caso de ser uma catedral, o bispo participava do culto. Esta capela geralmente era separada da nave por um biombo de ferro.
O cântico na igreja era de início regido por um líder q quem o povo respondia. O cântico antifonal, em que dois coros separados cantam alternadamente, desenvolveu-se na Antioquia. Ambrósio introduziu esta prática em Milão, de onde se espalhou para a Igreja ocidental.
Este também foi um período de grande pregadores. Ambrósio no Ocidente e Crisóstomo no Oriente foram os pregadores mais brilhantes. Até esta época, esses pregadores não usavam vestes especiais, que só surgiram quando o clero passou a manter para serviços eclesiásticos as indumentárias de tipo romano, cujo uso foi abandonado pelo povo.
Durante este período surgiram uma hierarquia sacerdotal especial sob a liderança de um bispo romano, a tendência a aumentar o número de sacramentos e torná-los os meios principais da graça, além dos movimentos em prol da organização da liturgia. Estas coisas serviram para colocar os fundamentos da Igreja Católica Romana medieval.
O Cristianismo Através dos Séculos – Uma História da Igreja Crsitã, capítulo 15
CONHEÇA OS BLOGS DO PASTOR LUIZ FLOR:
http://www.pulpito.blog.terra.com.br
http://www.poesiadegraca.blogspot.com
http://www.luizflor.wordpress.com (Recanto da Alma)
QUER FALAR COMIGO SOBRE MEUS TEXTOS: USE MEUS E-MAILS:
Luiz-flor@hotmail.com e Luiz-pastorflor@hotmail.com